segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Conto de uma amada amiga...
Espero que gostem!
Vall amo vc linda!!

Dê-me uma flor cinza



Sozinha, de volta ao jardim mais lindo que já vi na vida, onde experimentei a maior sensação de cores, formas e tamanhos de flores, vi-me atônita, surpresa...

Onde estavam aquelas cores? Cadê toda aquela beleza?

A agonia era tamanha ao deparar-me agora apenas com brancas e pretas.

Correu-me o desespero pelo corpo. O vazio da mudança completa, de não reconhecer mais o que era, de não existir mais a energia de um antigo colorido.

Uma voz de repente surgiu, como uma música angelical, como um sopro de esperança. Era doce, e pude perceber, depois de alguns suaves segundos, que quem me chamava era uma criança. Dizia:

- Vejo flores azuis, vermelhas, roxas, amarelas, quase todas as cores, todas tão bonitas! A verdade de seus olhos já não pode ser mais essa, senhorita. Não enxerga mais como eu.

Eu, extremamente entregue ao discurso infantil e espontâneo daquele pequeno ser, tomei-o em meus braços e, caminhando, indaguei com minha trêmula voz:

- E por que, meu querido anjo? Por que não vejo as mesmas cores que você?

- A senhorita não sabe o que o branco e o preto significam? Procure entender bem o que explicarei agora...

- Vamos, meu anjo, explique sem demora!

- O branco é o reflexo de todas as cores; o preto, o de nenhuma delas. A senhorita não teve essa aula na escola?

Ri, então, embriagada pela esperteza do pequeno anjo. Deliciada pela irreverência da situação. Mas, ainda perplexa pela diferença de nossos olhares, indignada por não enxergar as mesmas flores azuis, vermelhas, roxas, amarelas...

Percebendo a aflição em que me encontrava, o pequenino logo continuou:

- Hoje a senhorita é assim: ou enxerga todas as cores juntas, ou nenhuma delas.

A única iniciativa de minhas pernas neste momento foi paralisar meus movimentos. Precisava mesmo parar e refletir sobre as cores de minha vida. Enquanto o garoto desceu do meu colo e saiu correndo dentre as flores cantando canções de uma infância querida.

Olhando tudo aquilo, concentrei-me nas últimas palavras do menino. Sentei-me diante daquela brancura e negrura sem graça, afim de encontrar sentido, experimentar a sensação da intensidade dessa explosão contida de cores. Toquei-as, cheirei-as, passei tulipas, jasmins e rosas brancas e negras pelo meu corpo.

No ápice de meu encontro com jardim recém-nascido, abri os olhos e, como se este fosse o dia das melhores surpresas, vi, bem junto a mim, a mais estranhas das flores, porém a mais bela... Uma flor grande e viva. Uma robusta flor cinza.

O meu anjo já estava longe e gritei para que ele retornasse.

Ao chegar perto de mim, mostrei-lhe a aberração e pedi explicação:

- O que isso significa, meu querido?

Ele, lindamente irritado como é natural de toda criança ao ser interrompida, disse-me brevemente, antes de sumir em meio àquela flora:

- Ah, senhorita, finalmente encontrou o equilíbrio!

Desde então, das flores brancas e negras que encontro no caminho, sempre procuro a cinza mais próxima.


Valéria Pisaneschi Cruz 08/09/08

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